domingo, 18 de dezembro de 2016

Experiências discursivas por Pedro Renó: Silêncios sobre a Real Feitoria do Linho Cânhamo


 Durante a minha jornada pela educação básica, nunca ouvi e nem li nada a respeito da Real Feitoria do Linho Cânhamo. Esse tema veio a mim de maneira inusitada enquanto lia alguns artigos a respeito da história da Cannabis no Brasil, só assim fiquei sabendo que essa mesma planta já foi usada e cultivada livremente em solo brasileiro. Da curiosidade à indignação, como algo de tão grande dimensão fica assim despercebido por baixo dos panos?
 O linho cânhamo é produzido a partir da fibra extraída do caule da Cannabis, e foi de grande importância para o processo das navegações, são muito mais resistentes e flexíveis que as alternativas feitas de algodão. Por isso todas as cordas, velas e tecidos utilizados nos navios eram produzidos a partir dessa mesma fibra, fazendo da Cannabis, uma planta de grande valor econômico e político nesse período. Seu cultivo foi influenciado pela coroa portuguesa, e o projeto foi colocado em ação onde hoje se localiza o Rio grande do Sul, mais precisamente nas regiões de Canguçú (1783-1789) e no Vale do Rio dos Sinos (1789-1824).
 O silêncio nesse caso tem o seu próprio impacto na memória coletiva, e é de grande relevância aos que manipulam essa memória, para Jaques Le Goff  “a memória coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta das forças sociais pelo poder. Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva” (LE GOFF, 1984:103).
  Com um pouco mais de leitura sobre o tema, percebi que o projeto foi um fracasso, e que gerou um grande prejuízo para a coroa portuguesa. Suas terras deram lugar à propriedades particulares de imigrantes europeus no começo do século XIX. Existem fontes que evidenciam que mais de 21 famílias de escravos que foram enviados da Real Fazenda do Rio de Janeiro para trabalhar na RFC. Essas mesmas referencias me deram luzes sobre as causas desse fracasso, diferentes perspectivas historiográficas se posicionam a respeito desse tema na academia, porém, são informações fragmentadas e que certas vezes até se contradizem, porém nenhuma dessas perspectivas possui destaque e nem sequer um lugar nas grades curriculares do ensino de história no Brasil.

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